Museu Coffin Souza: julho 2024

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Vincent Price: O Príncipe do Horror 4

"O Abominável Dr. Phibes" (1971) foi foi um exercício sublime de terror camp, conduzido com criatividade e um humor elegante e divertido. Apresentava Vincent Price no seu melhor desempenho, e foi o ponto alto na carreira do diretor Robert Fuest. A equipe retornou no ano seguinte para uma sequência, com uma valente tentativa de reacender os mesmos elementos de sucesso do original.

"Dr. Phibes Rises Again" (A Câmara de Horrores do Diabólico Dr. Phibes, UK 1972) de Robert Fuest

O Dr. Phibes é ressuscitado de sua cripta durante uma conjunção especial da lua, e faz planos para viajar para o Templo de Ibisco, no Egito.

Lá, o místico 'Rio da Vida' está prestes a fluir novamente depois de dois mil anos, e com ele Phibes poderá ressuscitar sua amada Victoria. No entanto, o rival de Phibes, Darius Beiderbeck (Robert Quarry), roubou o mapa do Templo, em sua contínua busca da vida eterna.

Quando Beiderbeck monta uma equipe para encontrar o Templo, Phibes e sua fiel assistente Vulnavia (Valli Kemp) partem em sua perseguição, inventando uma série de mortes bizarras para os membros da expedição arqueológica.

O filme traz de volta Peter Jeffrey como o Inspetor Trout (que caça inutilmente o Dr. Phibes) e vários outros atores do primeiro filme – Hugh Griffith, Terry-Thomas – em diferentes papéis, além de uma pequena participação especial de Peter Cushing como o capitão do navio. Valli Kamp substitui (bem) Virginia North- que estava grávida na época- como Vulnavia.

Os assassinatos continuam a ser divertidos e bizarros - uma vítima é enfiada numa garrafa gigante de gin, outro morto com uma prensa de parafuso gigante, outra vítima é afogada na areia no seu próprio carro, etc. ...

Sem o motivo de vingança, e sem as pragas do Velho Testamento como inspiração, os assassinatos agora parecem muito gratuitos, e mais absurdos ainda. Mas o filme é uma boa continuação e é divertido o suficiente por si só.

Um terceiro filme do Dr. Phibes foi anunciado por um tempo, mas nunca foi realizado. Na década de 1980, tanto o diretor George A. Romero quanto o ator Paul Clemens tentaram lançar sua própria sequência de Phibes, sem sucesso.

https://www.youtube.com/watch?v=k976YHJHgz4

A influência do Dr. Phibes foi sentida nos próximos trabalhos de Price, começando por uma produção da United Artists...

"Theatre of Blood" (As 7 Máscaras da Morte, UK 1973) de Douglas Hickox

O ator shakespeariano Edward Kendal Sheridan Lionheart (Price) é humilhado pelos membros do Theatre Critics Guild em uma cerimônia de premiação, e comete suicídio mergulhando de uma grande altura no rio Tâmisa .

Ele sobrevive e é resgatado por um grupo de moradores de rua. Dois anos depois , Lionheart começa a se vingar dos críticos que o desprezaram, matando-os um por um de maneiras muito semelhantes às cenas de assassinato das peças de William Shakespeare que ele encenara.

Antes de cada morte, Lionheart sempre disfarçado como um personagem diferente, recita a nota contundente do crítico sobre seu desempenho no papel.

Lionheart é ajudado por sua adorável filha Edwina (Diana Rigg), que sequestra o crítico Peregrine Devlin (Ian Hendry) e o leva ao teatro, onde Lionheart lhe diz para lhe dar o prêmio ou ficará cego com adagas em brasa, como acontece com Gloucester em "Rei Lear" .

Ele se recusa, mas o mecanismo destinado a cegá-lo fica preso. Lionheart enlouquecido ateia fogo ao teatro, e na confusão, um dos mendigos mata Edwina batendo-lhe na cabeça com a estatueta do prêmio, involuntariamente colocando-a no papel de Cordelia, a filha mais nova de Lear...

O filme seria originalmente intitulado "Much Ado About Murder", com Robert Fuest originalmente convidado a dirigir , mas recusou alegando que não desejava ficar marcado como 'o cara que faz filmes de matança com Vincent Price.'

Douglas Hickox dirigiu bem o filme, usando locações por toda Londres (nada foi filmado em estúdio), e as cenas de assassinato são muito bem feitas, trazendo à tona o humor nos momentos mais brutais.

Apesar de inspirado nos filmes do Dr.Phibes, "Theatre of Blood" teve uma produção melhor em todos os sentidos, e se tornou o o filme favorito de Vincent Price. É fácil perceber porquê. Ele está claramente se divertindo como Lionheart, que sugerem que seja um mau ator, e Price mantém seu desempenho naquela linha tênue entre exagerar totalmente, 'apresentá-lo' como um mau ator e, ao mesmo tempo, ser adequadamente ameaçador quando necessário. Ele é tremendo no papel principal.

Há também um ótimo elenco de apoio, liderado por Diana Rigg, junto com alguns grandes atores como Ian Hendry, Harry Andrews, Dennis Price, Jack Hawkins, Robert Morley, Arthur Lowe, Coral Browne, e Eric Sykes.

https://www.dailymotion.com/video/x17u01j

"Madhouse" (A Casa dos Rituais Satânicos/A Casa do Terror, USA/UK 1974) de Jim Clark

O famoso ator de terror Paul Toombes (Vincent Price) sofre um colapso mental (e internamento em um manicômio) depois do assassinato de sua futura noiva.

Anos depois, ele é persuadido a retornar ao papel do 'Dr. Morte' que o tornou famoso. Seu amigo escritor Herbert Flay (Peter Cushing), que também é o roteirista de todos os filmes do 'Dr. Death', o convence a voltar a ao personagem em uma série de TV.

No entanto, quando as filmagens começam, alguém vestido como Dr. Death começa a matar o elenco e a equipe, testado novamente sua sanidade.

A polícia logo passa a suspeitar de Toombes , mas quem pode ser o misterioso assassino mascarado e de capa que está atrapalhando as filmagens?

Nova coprodução AIP/Amicus, com muita diversão camp, e com alguns grandes nomes do terror- além de Price e Cushing, atuam- Robert Quarry, Adrienne Corri, Linda Hayden, e os falecidos Boris Karloff e Basil Rathbone em cenas tiradas de "Tales of Terror" (1962) e "The Raven" (1963) da AIP. O roteiro usa uma interessante metalinguagem, já que é um filme de terror sobre as filmagens de uma série de terror, com elementos de Dr.Phibes e "Theatre of Blood", mas é inferior aos seus modelos. O filme não foi o sucesso que a AIP esperava, e o contrato com Vincent Price terminou a seguir.

https://www.dailymotion.com/video/x8wpx5w

Profissionalmente e pessoalmente, Vincent Price encontrou grandes mudanças ao entrar na sua 60ª década, no início da década de 1970. À medida que seus papéis no cinema diminuíam, Price tornou-se mais ocupado do que nunca, dando palestras sobre arte em faculdades dos EUA em todo o país, dando palestras e publicando vários livros sobre arte e culinária...

... dirigindo a série de antologia da BBC Radio, "The Price of Fear" , e a série de seis partes de ficção científica, "Aliens of the Mind" (com seu colega e amigo , Peter Cushing), e narrando "The Devil's Triangle" (1976), um documentário sobre os fenômenos no Triangulo das Bermudas.

* 'O que é um monstro? É um sorriso virado de cabeça para baixo. É um sapo com um menino no bolso, um puxão na manga, uma mordida no pescoço, uma presa na garganta, uma estaca no coração, uma coruja na sopa e, uh... Jack, o Estripador, beliscando no seu nariz.' * (Price)

Price apresentou e participou de "The Horror Hall of Fame" ( USA 1974- ABC TV) de Charles Braverman- um programa /documentário com uma homenagem aos monstros dos filmes de terror. Auxiliado por Billy Van como “Zuckman”, Price dá uma olhada afetuosa e bem-humorada nos monstros clássicos de Hollywood, e nos amados atores que os interpretaram.

Infelizmente, a essa altura a maioria das lendas do terror já havia falecido, então Price teve que conversar com outras pessoas sobre essas estrelas. Os convidados incluem o 'Charada' Frank Gorshin, o próprio' Gomez Addams', John Astin, a atriz Candy Clark, o escritor Raymond McNally, o maquiador William Tuttle e o grande John Carradine - o programa foi gravado no dia de seu aniversário.

Além de relembrar filmes, também se fala sobre os kits de monstros 'Aurora' e a revista 'Famous Monsters of Filmland' ( o editor Forrest J. Ackerman foi um dos roteiristas do especial), e são mostrados alguns clips de cenas aleatórias de produções variadas dos anos 60 e 70.

https://www.youtube.com/watch?v=pc3UXNCXkMU

Price se tornou uma improvável estrela do rock quando fez a narração de "The Black Widow" , uma das faixas do álbum solo de rock terror de Alice Cooper, "Welcome to My Nightmare" (1975), e participou de um especial para a TV com o cantor, que era seu grande fã .

Outro trabalho de voz incluiu um cover de "The Monster Mash" , de Bobby Pickett ( https://www.youtube.com/watch?v=ffKXiGcmsxU ), e uma coleção de audio books que tratam de fantasmas, ghouls e demonologia. A personalidade assustadora de Tio Vincent também foi capitalizada na promoção de todos os tipos de produtos, desde jogos e brinquedos, passando por um bizarro kit para esculpir cabeças encolhidas em maçãs...

... até biscoitos, vitaminas, macarrão, panelas, tapetes e conjuntos de pintura.

Vincent também parecia nunca sair da TV. Não apenas seus filmes da AIP foram transmitidos pela primeira, mas Vincent também foi ator convidado em programas populares como "The Bionic Woman" , "The Brady Bunch" e "The Muppets"...

... e até a participação especial no programa infantil canadense "The Hilarious House of Frightenstein" (1971), onde ele fazia as narrações de abertura e encerramento, e algumas pontas.

Em 1973, Vincent foi homenageado no programa de TV "This is Your Life", organizado por sua esposa Mary Grant.

Nos bastidores, porém, o casal estava em apuros. Tendo começado um caso com a atriz australiana Coral Browne enquanto trabalhavam juntos em "Theatre of Blood" , Vincent terminou seu casamento de 24 anos com Mary. Ele e Coral então se estabeleceram em uma nova vida juntos nos EUA, onde, Vincent embarcou em um projeto teatral que se tornaria o triunfo de atuação de toda a sua carreira: a peça "Diversions & Delights , no qual interpretou o dramaturgo e escritor Oscar Wilde.

Originalmente intitulado "Oscar Wilde: Well Chosen Enemies", do dramaturgo John Gay, o espetáculo solo estreou em junho de 1977, e nos anos seguintes, Vincent faria 800 apresentações em 300 cidades, tanto nos Estados Unidos quanto na Austrália, sempre com os mais rasgados elogios da crítica e público para sua performance...

'Vincent Price é um mestre'

( Wall Street Journal )

'Maravilhosamente comovente'

( Washington Post )

CONTINUA...

PRICE'S GALLERY

Arte de Cayman Moreira para Valli Kemp , e o retorno do Dr. Phibes!

FONTES:

LIVROS:

- "Horror Film Stars" Michael R. Pitts (McFarland Books, UK 1991)

- "The Complete Films of Vincent Price" Lucy Chase Williams (Citadel Press, USA 2000)

- "Vincent Price: His Movies, His Plays, His Life" Vincent Price (Garden City NY: Doubleday & Company, Inc., USA 1978)

WEB 🕸

- IMDB

-Wikipédia

- MORIA- https://www.moriareviews.com/

- https://www.thesoundofvincentprice.com/

- https://notgoodatnormal.com/vincent-price/

- https://www.stlmag.com/history/st-louis-sage/how-did-vincent-prices-family-first-make-their-fortune/

Vincent Price Legacy- https://www.youtube.com/@TheVincentPriceLegacy

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Vincent Price: O Príncipe do Horror 3

Vincent Price continuou atuando para a AIP (American International Pictures) depois do fim (?) do ciclo E.A.Poe. Ele voltou a trabalhar com o diretor Jacques Tourneur ( em seu último filme, depois de ter dirigido "The Comedy of Terrors" em 1964) em:

"City Under the Sea" / "War-Gods of the Deep" (Monstros da Cidade Submarina, 1965)

Em 1903, na Cornualha ( Sudoeste da Inglaterra), um grupo de moradores locais descobre uma cidade subaquática, que remonta a 1803...

... e que esconde uma sociedade de contrabandistas liderada pelo louco e tirânico Sir Hugh (Vincent Price)...

...conhecido como 'O Capitão', que devido à estranha mistura de oxigênio que respiram, não envelhece há mais de um século. No entanto, o vulcão que alimenta a cidade tornou-se instável. O Capitão agora os aprisiona o grupo, até que o engenheiro de minas Ben Harris (Tab Hunter) encontre um meio de mantê-lo.

As águas ao redor são dominadas por uma antiga e monstruosa raça aquática metade humana metade peixe, que são os fundadores da cidade submarina, que sofreram uma mutação.

Aventura, sci-fi, suspense e fantasia que teve como fonte de inspiração um poema de Edgar Allan Poe (“A Cidade no Mar” de 1845), que é parcialmente recitado no começo e no final do filme.

O roteiro de Charles Bennett e Louis M. Heyward, faz uma salada fantástica, que inclui elementos da obra de H.P.Lovecraft, e Jules Verne - o personagem de Price lembra o Capitão Nemo, e também Robur, que ele já havia interpretado.

A coprodução anglo americana (da AIP e Bruton Film Productions) ficou mais conhecida pelo seu título mais comercial de relançamento nos EUA : "War Gods of the Deep"...

https://www.dailymotion.com/video/x7s00m3

"Dr. Goldfoot and the Bikini Machine" (A Máquina de Fazer Bikini, 1965) de Norman Taurog

O vilão Dr. Goldfoot (Vincent Price) trabalha em seu plano de construir um exército de lindas androides femininas para seduzir homens ricos e roubar-lhes todas as suas riquezas. Ele é auxiliado por Igor (Jack Mullaney), já que todo cientista louco deve ter um assistente chamado Igor!.

O desajeitado agente secreto 'Agente 00½', chamado Craig Gamble (Frank Avalon), junto com o igualmente desastrado Todd (Dwayne Hickman)- possível vítima do Dr. Goldfoot- acabam sendo os únicos em posição de atrapalhar seu caminho.

Comédia de ação, paródia dos filmes de James Bond - o cientista louco de Vincent Price se chama Goldfoot e usa chinelos de ouro em uma clara referência ao personagem-título do filme de Bond, "Goldfinger" (1964).

A AIP também aproveita para citar de tudo o que eles estavam fazendo na época - Vincent Price está imitando seus papéis nos filmes de Edgar Allan Poe – há uma paródia da sequência do pêndulo em "Pit and the Pendulum" (1961) e os vários retratos dos ancestrais de Goldfoot são de Price como Roderick Usher de "The House of Usher" (1960), e Verden Fell de "The Tomb of Ligeia" (1964). Frankie Avalon e Annette Funicello da série de 'filmes de praia' da AIP "Beach Party", estão no elenco.

Price parece se divertir muito com seu personagem , talvez mais do que o público...

https://ok.ru/video/929220856529

"Spie Vengono dal Semifreddo" / "Dr Goldfoot and the Girl Bombs" (Bonecas Explosivas, IT/USA 1966) de Mario Bava

O agente do Comando de Inteligência de Segurança, Bill Dexter (Fabian), localiza o Dr. Goldfoot (Price) em Roma. Goldfoot está enviando seu novo exército de androides femininas, que possuem bombas construídas dentro delas, para seduzir e explodir generais da OTAN.

Acompanhado por dois desajeitados agentes italianos do SIC, Franco (Franco Franchi) e Cicchio (Cicchio Ingrassia), Bill tenta impedir Goldfoot de lançar uma bomba de hidrogênio sobre a Rússia, como parte de seu plano para dominar o mundo.

Sequência de "A Máquina de Fazer Bikini', em coprodução ítalo-americana. O primeiro filme foi uma paródia bem boba aos filmes de James Bond, mas fez sucesso, principalmente na Itália. Assim, foi chamado um dos melhores diretores europeus de terror dos anos 1960, para comandar a nova aventura. O astro Fabian era um cantor pop, e a dupla Franco & Cicchio, uma das inúmeras imitações de Abbott & Costello.

O filme tem bastante ação, e algumas piadas surreais, mas o roteiro é uma tolice infantil. Diverte como uma paródia trash ao gênero 'Eurospy'...

https://www.dailymotion.com/video/x7u7411

(Price aproveitando férias com a sua filha Victoria em 1967)

Apesar de ter consolidado sua personalidade na tela como o novo Rei do Terror, Price também gostou de ver sua nova imagem na tela nas paródias cômicas da AIP , e enquanto estava no horário nobre da televisão conquistou uma nova geração de fãs 'jovens' ao aparecer nos grandes sucessos de do dia, incluindo as séries "Get Smart" (Agente 86) ,"The Man from UNCLE" , "Viagem ao Fundo do Mar", "F Troop" (1967) - western cômico, onde viveu o Conde Sforza, no episódio "V is for Vampire" (1967)...

... e principalmente "Batman" - onde apareceu em sete episódios entre 1966 e 1967, como o hilário Egghead (Cabeça de Ovo) : o 'criminoso mais inteligente do mundo'!

"Witchfinder General"/ "The Conqueror Worm" (O Caçador de Bruxas, UK/USA1968) de Michael Reeves

1645, durante a Guerra Civil Inglesa - Matthew Hopkins (Price) é um oportunista caçador de bruxas, que tira vantagem da desordem social para impor um reinado particular de terror.

Ele e seu assistente John Stearne (Robert Russell) conseguem 'confissões' forçadas ou forjadas de suspeitos de bruxaria, através de torturas e maus tratos, e com isso reivindicam pagamentos dos magistrados dos vilarejos que visitam.

Chegando em Brandeston, Hopkins e Stearne imediatamente são informados que o padre dali, John Lowes (Rupert Davies), é suspeito de praticar rituais satânicos. O sacerdote é barbaramente torturado até que a sobrinha dele, Sara (Hilary Dwyer), oferece favores sexuais a Hopkins, conseguindo adiar temporariamente sua execução.

Sara é noiva do capitão Richard Marshall (Ian Ogilvy) e quando ele sabe dos crimes dos corruptos caçadores de bruxas, jura persegui-los incansavelmente e matá-los.

Drama e terror baseado no livro de mesmo nome de Ronald Bassett. Coprodução de Tigon British Film Productions e da American International Pictures. O filme foi renomeado como "The Conqueror Worm" nos Estados Unidos numa tentativa de associá-lo ao poema homônimo de Allan Poe (lido por Vincent Price durante os créditos), e a série que Price foi protagonista. Foi o terceiro e último filme do jovem e brilhante diretor Michael Reeves, que morreu por overdose de drogas no ano seguinte com apenas 25 anos de idade. Price não era a escolha de Michael Reeves para o papel. Conhecido pelas interpretações exageradas nos filmes da AIP, sua atuação em "Witchfinder", ao contrário, é sutil e extremamente séria.

Foi um grande desafio para o veterano ator (em seu 75º filme, e o 17º na AIP) , devido as constantes discussões com o exigente Reeves, que o deixava inseguro em relação ao que aquele diretor queria. Mesmo assim, Price admitiu depois que 'realizara uma de suas melhores interpretações'.

https://www.youtube.com/watch?v=UhuQqDgO-Fs

Ainda na Inglaterra, Vincent Price atuou em mais uma adaptação livre de Edgar Allan Poe, em um projeto que seria dirigido pelo falecido Michael Reeves...

"The Oblong Box" (O Ataúde do Morto Vivo, 1969) de Gordon Hessler

O aristocrata inglês do século XIX Julian Markham (Vincent Price) retirou-se para a sua mansão de campo, por razões desconhecidas distanciando-se da sua noiva Elizabeth (Hilary Dwyer), mas na realidade para esconder do mundo o fato de ter trancafiado o seu próprio irmão, Sir Edward (Alister Williamson) no sótão de sua mansão.

Edward foi vítima de uma maldição vodu que o deixou terrivelmente desfigurado, e ao conseguir escapar, encontra abrigo com o Dr. Neuhartt, um médico sem escrúpulos que contrata ladrões de túmulos para roubar órgãos para suas pesquisas.

Usando um capuz vermelha sobre o rosto para esconder sua deformidade, Edward embarca em uma onda de assassinatos ao cair da noite.

Produção britânica da AIP, que reúne pela primeira vez Price com Christopher Lee, apesar do último ter apenas um pequeno papel.

O que parece ser uma mistura de histórias diferentes – feitiçaria africana, roubo de túmulos, desfiguração, chantagem, experiência médica, enterro vivo, um monstro com uma máscara escarlate – rapidamente se junta numa história tensa de retribuição e vingança...

...mas que nada tem de Allan Poe! A violência e as situações de sexo foram reduzidas nos Estados Unidos para evitar a classificação 'R', mas fizeram com que o filme fosse proibido na Austrália.

https://www.youtube.com/watch?v=_H1NnqtI46A

"Cry of the Banshee" (O Uivo da Bruxa, USA/UK, 1970) de Gordon Hessler

Na Inglaterra do século 16, o magistrado puritano e perverso Edward Whitman (Price) condena à morte os seguidores da bruxa Oona (Elisabeth Bergner), embora a poupe deliberadamente.

Para se vingar, Oona convoca um servo mágico, um 'sidhe' (uma criatura diabólica com olhos brilhantes), para destruir a família do senhor .

Sob o disfarce do jovem e bonito Roderick (Patrick Mower), ele começa a atrair a família de Whitman para matá-los, cada morte ocorrendo como se fosse um animal selvagem...

Outro terror de época da American International Pictures, feito na Inglaterra. Eles tentaram vender "Cry of the Banshee" como sendo baseado em Edgar Allan Poe, embora não haja nenhuma conexão além de uma citação nos créditos...que não é do escritor!

Na verdade, "Cry of the Banshee" tem mais em comum com a breve moda dos filmes de perseguição às bruxas que surgiram depois de "Matthew Hopkins – Witchfinder General/The Conqueror Worm"(1968) também estrelado por Vincent Price .

https://www.dailymotion.com/playlist/x5mfvg

Então, a AIP e a produtora britânica Amicus, juntaram Vincent Price, Christopher Lee e Peter Cushing pela primeira vez (bem, quase) em um filme bizarro, complexo e surreal...

"Scream and Scream Again" (Agonia do Terror, UK/USA 1970) de Gordon Hessler

A polícia de Londres tenta rastrear um homem responsável por uma série de assassinatos 'vampirescos'. O assassino é finalmente capturado e algemado ao para-choque de um carro, mas escapa, deixando o braço decepado dentro da algema, onde se descobre que é um membro artificial.

Perseguido pela polícia, o homem pula em um tanque de ácido. Enquanto isso, um funcionário do serviço secreto de uma ditadura estrangeira começa a matar membros do seu próprio governo.

Um forense descobre um projeto de pesquisa do cientista especialista em câncer, Dr. Browning (Price) para substituir altos funcionários do governo por réplicas artificiais criadas em seu laboratório.

Terror, sci-fi, policial, espionagem, com roteiro de Christopher Wicking, baseado na novela 'The Disorientated Man' de Peter Saxon. Produção AIP/Amicus. Esta primeira união dos três titãs do terror, Price, Lee e Cushing, foi uma decepção para os fãs de terror. Peter Cushing faz uma participação especial e aparece em uma única cena de três minutos e 11 segundos, como o militar estrangeiro morto por um dos homens artificiais. Lee, interpreta Fremont, um funcionário rígido do ministério inglês, e marca oito minutos em cena...

... e ele e Price têm apenas uma cena juntos com duração de 50 segundos, pelo menos é uma louca cena de luta entre os dois....

O enredo é envolvente e parcialmente confuso (a estrutura do filme é fragmentada, pois alterna entre três tramas), mas faz sentido no final. Ambicioso, perturbador e com um ritmo muito ágil, e que não perde um segundo.

Em um momento de glória megalomaníaca, o Dr.Brwning de Price afirmar arrogantemente: 'Deus está morrendo em todo o mundo. O homem o inventou, mas o homem não precisa mais dele. O homem é Deus agora – na verdade, ele sempre foi.'

https://vimeo.com/680235397

Sempre associado com a obra de E.A. Poe, Price estrelou um projeto diferente para a TV:

"An Evening of Edgar Allan Poe" (Uma Noite com Edgar Allan Poe, USA, 1970 AIP-TV) de Kenneth Johnson

Sozinho em cena, Price recita e interpreta (com ajuda de cenários, roupas de época e maquiagem) quatro histórias do escritor: "The Tell-Tale Heart", "The Sphinx", "The Cask of Amontillado", e "The Pit and the Pendulum.

Se alguém ainda tivesse alguma duvida sobre o talento teatral de Vincent Price, esse 'one man show' mostraria a verdade- com sua voz, expressões e olhares, ele emociona e assusta, contando e vivendo os dramas lúgubres do célebre autor...

https://www.youtube.com/watch?v=vI5z79BA-qU

Price foi então reunido pela AIP com o diretor inglês Robert Fuest para um de seus filmes mais famosos, e seu personagem mais icônico...

"The Abominable Dr. Phibes" (O Abominável Dr. Phibes, UK 1971) de Robert Fuest

O Dr. Anton Phibes (Price), é um famoso organista de concertos com doutorado em música e teologia , e presumivelmente morto em um acidente de carro. Ele usa uma peruca e maquiagem protética para disfarçar sua cabeça que lembra um crânio humano depois de seu cabelo e pele foi queimado no acidente.

Devido aos ferimentos, Phibes agora fala através de um dispositivo eletrônico conectado em seu pescoço e come depositando comida em algum lugar atrás de sua cabeça.

Phibes tem uma banda de músicos mecânicos em tamanho real em seu covil, onde toca músicas, e dança com sua bela assistente e motorista muda, Vulnavia (Virginia North), enquanto elabora um maligno e elaborado plano...

Phibes está em busca de vingança contra nove médicos que ele acredita serem responsáveis pela morte de sua amada esposa Victoria (Caroline Munro) doente em uma mesa de operação.

-"Nove a mataram... nove morrerão... Nove eternidades em desgraça!"

Ele mata os médicos um por um, usando sua versão das Dez Pragas do Egito - furúnculos, morcegos, sapos, sangue, ratos, granizo, feras, gafanhotos, morte dos primogênitos e, finalmente, escuridão...

"O Abominável Dr. Phibes" não recebeu muita atenção quando foi lançado - os críticos o chamaram de lixo exagerado, embora alguns tenham gostado, e a bilheteria inicial foi decepcionante porque a AIP, que também não achou nada de especial, e demorou um pouco para descobrir como comercializar tal estranheza.

Mas o público acabou entendendo e comparecendo, e hoje é um grande filme cult. Em muitos aspectos, o filme estava à frente de seu tempo, criando um serial killer que trabalha um tema e misturando violência com comédia.

Uma obra-prima precursora do gênero 'Camp' – filmes com uma teatralidade exagerada e deliberada. Tem também uma elegância sublime, e um vilão melancólico, com Vincent Price apresentando a performance de sua vida como um louco, aparentemente preso dentro de seu próprio rosto, e ao mesmo tempo apaixonado e requintado...