🎥Brasil Cinema 🎬
O país teve uma trajetória cinematográfica semelhante à de muitos outros países produtores de cinema, com altos e baixos acompanhando as mudanças sociais e políticas, além da concorrência com a televisão. Após a era do cinema mudo dar lugar a longas-metragens na década de 1930, as décadas de 1940 e 1950 foram marcadas por filmes 'seguros', familiares (quase exclusivamente comédias e musicais) produzidos por estúdios que seguiam o estilo de Hollywood, como a Atlântida Cinematográfica e a Companhia Cinematográfica Vera Cruz.
O Horror...o horror brasileiro....
Os primeiros filmes nacionais a explorarem temas típicos do horror foram comédias musicais :
"O Jovem Tataravô" (1936) de Luiz de Barros .
Eduardo (Darcy Cazarré) é um 'novo rico' carioca que promove um ritual egípcio (com uma fórmula adquirida do túmulo do faraó Ramsés II) no qual ressuscita seu tataravô falecido em 1822.
Em carne e osso no Rio de 1930, Victor Eulálio (Marcel Klass), o 'jovem tataravô' promove uma série de confusões, sobretudo por ser um irrefreável mulherengo.
Quando ele consegue conquistar a filha do tataraneto, pedindo-a em casamento, a família resolve despachá-lo de volta para o além e, para isso, recorre a um ritual de macumba.
Luis “Lulu” de Barros (1893-1981), foi um grande pioneiro - inaugurou o cinema sonoro no Brasil (com "Acabaram-se os Otários", em 1929) , e foi o responsável por essa comédia da Produções Cinédia, um dos primeiros filmes brasileiros a explorar números musicais, e o primeiro em abordar um tema 'sobrenatural' no país.
https://www.youtube.com/watch?v=AeySQcZq-gs
"Fantasma Por Acaso" (1946) de Moacyr Fenelon
Zézinho (Oscarito) é idoso, solteirão, mas mulherengo, e trabalha como faxineiro nos escritórios da Companhia de Aviação Albatroz. Depois de levar uma bronca do patrão, o doutor Rubens (Mario Brasini), por chegar mais uma vez atrasado, ele é atropelado e morre.
Ao chegar ao céu (recebido por duas belas vedetes), Zézinho conhece Cândido, o pai falecido de Rubens e antigo proprietário da Albatroz. Cândido conta a Zézinho que antecipara sua morte, pois precisa de ajuda para livrar o filho da amante vigarista, Sonia (Mary Gonçalves).
Zézinho então escolhe o corpo do jovem empresário Daniel Matos para voltar à Terra para ajudar seu chefe, envolvido em suas confusões amorosas. O fantasma de Cândido o acompanha para ajudar e aconselhar...
Comédia fantástica da Atlântida Cinematográfica, com os tradicionais números musicais e romance. Uma fantasia baseada numa novela do escritor norte-americano Thorne Smith, onde o elemento fantástico era apenas um pretexto para o desenvolvimento de uma comédia familiar.
Oscarito (Oscar Lorenzo Jacinto de la Inmaculada Concepción Teresa Díaz, Espanha 1906 – 1970), nasceu na Espanha, começou no circo, passou pelo 'Teatro de Revista', e estreou no cinema em 1933, se transformando em um dos mais populares humoristas do Brasil.
https://www.youtube.com/watch?v=t5ZPuMIF_lk
"Três Vagabundos" (1956) de José Carlos Burle
Os inseparáveis amigos vagabundos, 'Boa Vida' (Oscarito), 'Rapadura' (Grande Otelo) e Mário (Cyl Farney) decidem invadir casas sem moradores para abrigarem-se.
Uma velha casa escolhida é misteriosa, e cheia de aparições assustadoras. Ao transitar pela mansão, o trio encontra um laboratório, onde o cientista louco Dr. Schultz (José Lewgoy, 1920-2003) combina uma transfusão de cérebro com um estranho casal...
O cientista faz as operações, auxiliado por um mordomo- lacaio troglodita, e sua própria esposa...
... e decide trocar o cérebro do banqueiro boboca 'Da Grana' (Renato Restier) pelo cérebro do simplório Boa Vida...
Produção da Atlântida com a muito popular dupla Oscarito e Grande Otelo (Sebastião Bernardes de Souza Prata, 1915-1993). Nitidamente influenciada pelas comédias de terror e casa mal assombradas americanas, incluindo os temas do cientista louco e dos transplantes de cérebro.
O filme foi concluído em 1952, mas em novembro daquele ano, o depósito dos estúdios da Atlântida foi vítima de incêndio de grandes proporções, sendo bastante destruído, podendo-se salvar apenas três filmes rodados. " 3 Vagabundos " foi um deles, e estreou somente em 1956.
https://www.youtube.com/watch?v=SxqBXTeBCSA
"Os Apavorados" (1962) de Ismar Porto
Os primos Dudu (Oscarito) e Vavá (Vagareza), são despejados da pensão onde moravam por falta de pagamento, mas, recebem uma carta que os avisa sobre uma herança: eles haviam ganhado, de uma tia distante, uma mansão e uma grande soma em dinheiro.
Felizes, convidam alguns amigos para conhecerem a casa. Porém, quando tentam ocupá-la, são advertidos de que lá existem terríveis assombrações. Os fantasmas, no entanto, nada mais são do que uma armadilha criada por uma quadrilha de falsários que se escode no local, e deseja ver os intrusos fora dali.
Outra comédia da Atlântida, inspirada nos filmes 'Old Dark House' americanos - um subgênero que se inclina para a comédia, o suspense e crimes misteriosos, em casas/ mansões assustadoras, mas que apesar de sugerir fantasmas ou entidades sobrenaturais, se revelam farsas policiais.
Fortemente inspirados pela Nouvelle Vague francesa e pelo Neorrealismo italiano, jovens diretores brasileiros se rebelaram contra o sistema e começaram a produzir filmes mais intelectuais, artísticos, chocantes e/ou social e politicamente relevantes. Esse movimento – chamado Cinema Novo – floresceu nas décadas de 60 e 70 e também levou a indústria cinematográfica brasileira à atenção internacional... pelo menos naquele momento. Na esteira do movimento do Cinema Novo, na região não oficial do centro de São Paulo, apelidado de Boca do Lixo, foi o berço de todo tipo de filme de exploração a partir da década de 1960. Essa produção diversa, quase toda com grandes quantidades de filmes de sexo e nudez soft-core (as Pornochanchadas), seriam mais tarde chamados de 'Cinema Boca de Lixo'.
Houve muitos filmes de arte underground (parte de um movimento underground paralelo, às vezes chamado de Cinema Marginal, ou 'Udigrudi') e filmes de terror produzidos durante esse período. Curiosamente, o Brasil estava sob uma ditadura militar, tinha uma empresa cinematográfica estatal dominante (Embrafilme) e, tecnicamente, havia regras rígidas de censura em vigor enquanto todos esses filmes eram produzidos! No entanto, o que era ou não aceitável era frequentemente deixado a critério de certas regiões, e essas ofertas provaram ser extremamente populares entre o público.
Nessa época, e na região, surgiu José Mojica Marins (1936-2020), que se tornaria tanto o maior astro do terror brasileiro - frequentemente interpretando seu personagem principal, Zé do Caixão - quanto o principal cineasta do gênero . Depois de trabalhar no cinema desde 1948 (dirigiu seu primeiro curta em 8 mm aos 12 anos), e fracassar com seu primeiro longas (A Sina do Aventureiro- 1958, e Meu Destino em Suas Mãos - 1963), Marins supostamente vendeu sua casa e seu carro para financiar seu projeto inovador de terror em preto e branco, de muito baixo orçamento, toques surrealistas, altas doses de sexo e violência, e fortes raízes nacionais :
"À Meia-Noite Levarei Sua Alma" (1964) de José Mojica Marins
Conceber um filho é de suma importância para o agente funerário e coveiro de uma cidade do interior, Jozefel Zanatas, apelidado de Zé do Caixão (José Mojica Marins), mas sua esposa Lenita ( Valéria Vasquez ) ainda não teve filhos. Zé do Caixão almeja obter a imortalidade através do sangue, gerando um filho que dará continuidade à sua linhagem.
Cansado da infertilidade da esposa (ou talvez da sua própria), Zé se interessa por Terezinha (Magda Mei), a namorada de seu melhor amigo Antonio ( Nivaldo Lima ).
Ele então decide se livrar de Lenita, dando-lhe éter, amarrando-a a uma cama e deixando uma aranha enorme picá-la até que ela morra.
Uma noite, enquanto estão sozinhos, Zé nocauteia Antonio, bate em sua cabeça na lateral de uma banheira e o afoga.
Quando ele vai atrás de Terezinha, que não quer saber dele, ele a esbofeteia e a estupra. Traumatizada e envergonhada, ela acaba se matando e...
... quando um médico ( Ilídio Martins Simões ) o ameaça, Zé usa suas longas e afiadas unhas para arrancar seus olhos, depois o cobre com bebida e o incendeia!
Zé desafia e ataca os vivos, os mortos, e a maldição de uma velha cigana...
... que finalmente o alcança durante o Dia dos Finados, enquanto ele está perto de um cemitério... caminhando sozinho... à meia-noite...
Vestido todo de preto, com uma capa e cartola, barba, sobrancelhas grossas, e as famosas grandes unhas, Marins compõem seu seu personagem original, que quebra tabus religiosos, e desafia as forças do além, com uma incrível e assustadora autoridade.
Além de muitas cenas de violência, sexo e sadismo, sem precedentes para um filme de 1963, "À Meia Noite..." tem uma abordagem anti-religiosa e provocativa, o que em um país em que a igreja católica ainda tinha muita força, é uma postura perigosa de se adotar.
'O que é a vida? É o princípio da morte. O que é a morte? É o fim da vida. O que é a existência? É a continuidade do sangue. O que é o sangue? É a razão da existência.'
Considerado o primeiro filme genuíno de terror brasileiro, provou ser um grande sucesso, e chegou a ficar em cartaz em um cinema por quatro meses consecutivos. A obra e seu criador - desde então irremediavelmente interligados - dividiram a opinião dos críticos, que reconheceram tanto a genialidade, quanto a 'insanidade' do cineasta.
https://www.youtube.com/watch?v=OY5rCcY-rag
O Horror nacional nasceu, e teríamos muitos outros filmes na mesma linha, começando com sua sequência:
"Esta Noite Encarnarei no Seu Cadáver" (1966) de José Mojica Marins.
Zé do Caixão não só sobreviveu ao ataque sobrenatural no cemitério, como foi absolvido de seus crimes por falta de provas. Ele recomeça sua busca pela 'mulher superior' que lhe dará um filho, e a imortalidade por meio do sangue e da hereditariedade. Auxiliado agora pelo corcunda deformado Bruno ( Nivaldo de Lima )...
... ele sequestra seis jovens, e libera uma horda de tarântulas sobre elas enquanto dormem, como um teste para ver quem se mantém melhor sob pressão.
A escolhida é Márcia ( Nadia Freitas ), então Zé decide se livrar das outras cinco. Uma delas é estrangulada pelo corcunda e tem o rosto derretido com ácido, e as outras quatro são levadas para uma sala secreta, onde são atacadas por dezenas de cobras!
Infelizmente, Zé descobre que Márcia se apaixonou por ele e, como vê o amor como uma fraqueza, decide dispensá-la. Laura ( Tina Wohlers ), a adorável filha de um coronel ( Roque Rodrigues ) chega à cidade bem a tempo de chamar a atenção de Zé. E, para seu deleite, ela mesma é um pouco sádica.
A oposição da família é resolvida por Zé e o corcunda, que matam seu irmão com uma pedra enorme em sua cabeça.
Laura finalmente se vê grávida, mas as coisas começam a se complicar quando Zé descobre que uma de suas vítimas originais - Jandira ( Tania Mendonça ) - estava grávida no momento de sua morte. A culpa pela morte de Jandira e da criança o atormenta, e ele tem um pesadelo com visões do inferno...
...e Zé também tem a oportunidade de visitar brevemente Satanás (também interpretado por Mojica).
Zé do Caixão acorda estranhamente ainda mais seguro de suas convicções, apesar de seu pesadelo. Mas, Laura e o bebê morrem de complicações no parto logo depois, e devastado, ele leva o corpo dela para um mausoléu, onde provoca com raiva o Senhor e o Diabo para que se mostrem, para provar que eles existem. Quase no momento certo, um raio atinge uma árvore que cai sobre ele.
Márcia ainda lamentando a morte das outras cinco mulheres, bebe veneno e confessa os crimes de Zé antes de morrer. Ele então é perseguido por uma multidão de linchadores carregando tochas através de um pântano. Ferido, cai de um barranco no pequeno lago, onde grita novamente ao Senhor para provar sua força quando, de repente, os esqueletos das vítimas previamente jogadas na água sobem à superfície. Finalmente Zé é forçado a aceitar o fato de que existe um Deus.
'O Inferno em Cores!' alardeava a publicidade do filme...
...e sim, o filme muda repentinamente de preto e branco para colorido por cerca de cinco minutos, para a visão do inferno, que é uma mistura brilhante e berrante de fogo e gelo. Demônios vermelhos correm espetando pessoas com forcados, chicoteando-as e cravando pregos em suas testas.
Algumas pessoas são penduradas em cruzes de cabeça para baixo com cobras enroladas nelas. Vapor e gelo saem de buracos. Paredes sangram. Sangue pinga do teto. Cabeças e partes de corpos se projetam de todos os lados.
Torna-se evidente que o diretor aprimorou sua arte desde o primeiro filme, que era mais cru. Parece uma obra de outro nível para um autodidata do cinema, e um filme poderoso que consolidou José Mojica Marins como autor, e mestre do terror.
No entanto, o final teve que ser modificado devido à censura da época: em vez de gritar que não acredita em nada, desafiando até o fim, enquanto se afoga no pântano, Zé do Caixão parece ter uma redenção e começa a dizer: 'Deus é a verdade, eu acredito na Tua força' e implora pelo crucifixo do padre, que ele havia rejeitado anteriormente .
https://www.youtube.com/watch? app=desktop&v=uuquWmYY3l8
https://www.youtube.com/watch?v=xKE3lfwMb1Y
"Proezas de Satanás na Vila de Leva-e-Traz" (1967) de Paulo Gil Soares
A descoberta de um poço de petróleo próximo à cidadezinha nordestina de Leva-e-Traz atrai jovens, trabalhadores, prostitutas, o padeiro, até mesmo o padre abandona a igreja. Restam apenas as pessoas velhas, as crianças e os inválidos.
Depois que o padre leva a imagem da santa padroeira para fora da cidade, os velhos e as mulheres do vilarejo temem a chegada do diabo. Incríveis incidentes precedem a chegada do desconhecido Cavaleiro (Paulo Broitman)...
... que começa a introduzir grandes mudanças no vilarejo, assumindo as funções de líder religioso e prefeito. Ele promove a cura de doentes, o desenvolvimento da agricultura regional e, em coligação com políticos locais (que o manipulam), sua candidatura para a Presidência da República. Como preconizado pelo místico Pegador de Almas (Joel Barcelos)...
.... o estranho tem origens demoníacas, e se transforma em diversos animais, incluindo um sapo cururu e um bezerro com cara de gente.
Em seu discurso, ironicamente ele promete vida eterna a todos, e que o trabalho vai ser extinto. Começa um embate entre a credulidade dos habitantes católicos e a sedução exercida pelo demônio fanfarrão, cujos truques mágicos e feitos mirabolantes causa fervor entre os humildes moradores.
No fim, em meio a uma procissão, a magia se desfaz, e Satanás volta a ser um bode e a pobreza retorna ao vilarejo...
Comédia fantástica de cunho social e político, parte do movimento do Cinema Novo. O filme é baseado em diversas histórias da literatura de cordel, e tem canções de Caetano Veloso, que contribuem com comentários a respeito das ações e acontecimentos do enredo. Venceu o Festival de Brasília em 1967, e foi premiado em diversos outros festivais nacionais e estrangeiros.
https://www.youtube.com/watch?v=voJKqScZtJw
Promovido pela imprensa a 'superstar' e paparicado pelos cineastas do 'Cinema Marginal' (Rogério Sganzerla, Carlos Reinchenbach e outros), José Mojica Marins ganhou um programa na TV Bandeirantes: “Além, Muito Além do Além” (1967/1968) que tinha episódios de uma hora de duração com direção sua, e tendo Zé do Caixão como mestre de cerimônias. O sucesso de audiência muito se deve as histórias escritas por Rubens Francisco Lucchetti (1930- 2024), autor de centenas de livros populares de bolso, histórias em quadrinhos e roteiros para cinema e TV. Baseado nas histórias de Lucchetti para o show, o produtor Antonio Polo Galante (1934-2024), astuto empresário da Boca do Lixo, investiu em um filme de episódios de terror.
" Trilogia de Terror" (1968) de José Mojica Marins, Ozualdo Candeias e Luís Sérgio Person
“O Acordo” - de Ozualdo Candeias (1922-2007)
Morando em uma pequena vila, uma mulher (Lucy Rangel) fica cada vez mais preocupada com o comportamento de sua filha. A mãe deseja que a filha (Regina Céçlia) case e deixe seu letárgico estado de histeria que a mantém na cama muda.
Um médico afirma que o problema da menina é 'manha', por isso a mãe vai até um 'catimbozeiro' em busca de ajuda. Em transe, com a voz de uma velha escrava, o homem lhe diz para ir até o grotão, falar com o 'Senhor das Profundas'…
...ou seja, o demônio, que propõe um acordo: ele quer uma virgem, após a passagem de três luas, e em troca conseguiria um noivo para sua filha. O pacto está feito, mas...
“Procissão dos Mortos” - de Luiz Sérgio Person (1936-1976)
O garoto, Quinzinho, está em um morro capturando pássaros quando descobre um cadáver apodrecido segurando uma metralhadora.
Os moradores locais estão preocupados que o corpo esteja relacionado a histórias de guerrilheiros ('fantasmas da guerrilha') armados que assombram as minas à noite.
O pai do garoto (Lima Duarte), um pobre, mas destemido trabalhador vai até a mina para mostrar o quão errados eles estão, mas esbarra em dezenas de fantasmas armados, que o acertam no peito...
“Pesadelo Macabro”- de José Mojica Marins
Cláudio ( Mário Lima ) tem fobia de répteis e aranhas, além do medo de ser enterrado vivo, sofrendo de pesadelos constantes, repletos de rostos disformes, gritos, cobras, aranhas, lagartos e sapos.
Ele tenta se curar em um ritual de macumba em que homens comem vidro e minhocas, e um pai-de-santo chicoteia jovens mulheres semi- nuas em um processo de purificação.
Quando Claudio e sua noiva Rosana (Vani Miller) vão ao parque, são atacados por uma gangue de assustadores criminosos; Rosana é estuprada e Claudio é deixado para morrer. Ele perde a consciência, e é enterrado por engano, apenas para reviver no caixão após o enterro.
Seus gritos de terror vindos do subsolo não são ouvidos pelos moradores, mas Rosana tem uma premonição sobre o destino cruel de seu noivo...
Produzido por Antônio Polo Galante e Renato Grecchi, o longa-metragem tem três episódios dirigidos por grandes nomes do cinema marginal paulistano, em adaptação livre de capítulos da série da TV Bandeirantes. O episódio "O Acordo" é totalmente experimental /marginal, misturando diversos gêneros cinematográficos em uma trama de misticismo, onde aparece inclusive Jesus Cristo, como um mendigo, e pistoleiros ao estilo western...
Person cria um episódio que parece uma simples história de fantasmas sobre estranhos homens mortos armados, mas se transforma em uma alegoria sobre revolucionários e seus medos, com um final politicamente provocativo.
Em "Pesadelo Macabro", Mojica, com um roteiro de R.F. Lucchetti, se aproxima do conto de Edgar Allan Poe "Enterro Prematuro"...
https://www.youtube.com/watch?v=vggFXQQSsGk
"O Estranho Mundo de Zé do Caixão" (1968) de José Mojica Marins
Zé do Caixão apresenta três contos de horror.
“O Fabricante de Bonecas”
Quatro marginais descobrem a história de mestre Bastos (Messias de Melo) um velhinho fabricante de bonecas que, segundo rumores, guarda todo o seu dinheiro em casa. Eles invadem a casa procurando por ele, mas, ao não encontrarem nada, decidem violentar as quatro lindas filhas do fabricante.
No entanto, um destino muito pior os aguarda, quando descobrem o segredo dos olhos realistas de suas bonecas.
“Tara”
Um vendedor de balões, pobre e corcunda (George Michel Serkeis), anseia por uma bela mulher (Íris Bruzzi), e a segue pelas ruas .
Ela é então esfaqueada por um rival ciumento no dia do seu casamento. O vendedor de balões entra sorrateiramente na capela para molestar seu cadáver e colocar um par de sapatos nela enquanto ela está no caixão.
“Ideologia”
O excêntrico professor Oaxiac Odéz (José Mojica Marins) aparece em um painel de discussão na TV para defender sua tese de que que o instinto prevalece sobre a razão, e denunciar com desprezo a ideia de amor . Ele convida um de seus questionadores para sua casa para observar um experimento. Quando Alfredo e Vilma (Osvaldo de Souza e Nidi Reis) chegam, o professor mostra a eles os indivíduos que mantém prisioneiros, que após um período sujeito a condições subumanas, foram reduzidos a animais violentamente sexuais e canibais.
No final, uma 'Santa Ceia às avessas', servindo carne humana, celebra as ideias e práticas de Oaxiac Odez.
Depois de "Trilogia de Terror", Mojica resolveu fazer seu próprio filme em episódios, que encomendou para R.F. Lucchetti escrever, e que foi produzido pelo empresário e ator de origem egípcia George Serkeis. Servindo de mestre de cerimônias, e criando um novo personagem, o Professor Oãxiac Odéz (Zé do Caixão de trás para frente), a antologia (a despeito dos grandes problemas técnicos, por conta do orçamento e improviso) é poderosa, assustadora e transgressora, principalmente o último episódio...
O Brasil tinha sim filmes de terror, e um mestre...
https://www.youtube.com/watch?v=lyfVL9xNPYY
"Incrível, Fantástico, Extraordinário" (1969) de C. Adolpho Chadler
"A Ajuda" - Em uma noite, uma mulher desesperada (Sonia Clara) pede a um motorista (Cyll Farney) que ajude seu filho preso em um carro depois de um acidente. Ao fazê-lo, o motorista descobre que a mulher já havia morrido no acidente...
"O Sonho" - Uma jovem que vive em um internato prevê em um terrível sonho, a morte de seus colegas de classe, e a sua própria. Ela acorda, e tem um colapso fatal, era sua hora... .
"A Volta" - Uma viúva (Glauce Rocha) é assombrada pelo fantasma de seu marido que ela havia assassinado no banheiro de sua casa...
"O Coveiro" - Um coveiro (Fábio Sabag) decide roubar o anel de um rico cadáver que acabou de enterrar, mas, acaba morrendo de medo quando o braço do defunto cai sobre ele...
Antologia de histórias sobrenaturais populares, adaptando para o cinema quatro episódios que haviam tido grande sucesso quando apresentadas no programa de rádio homônimo (que foi ao ar de 1947 a 1958, idealizado e apresentado por Henrique Foreis 'Almirante' Domingues),e publicadas em livro, em 1951, pela revista O Cruzeiro.
O filme teve uma boa distribuição nos cinemas nacionais, mas depois 'desapareceu', não sendo lançado em nenhuma outra mídia.
O primeiro filme brasileiro de vampiros é essa chanchada colorida, e com participação de artistas famosos, como o veterano comediante Ankito (Anchives Pinto, 1924-2009 ), Hugo Carvana e Joanna Fomm. Infelizmente é outro filme não preservado, e perdido...
José Mojica /Zé do Caixão apesar de ter se transformado em um artista multimídia (cinema, TV, histórias em quadrinhos, disco de carnaval, marca de cachaça e até uma linha de perfumes!) continuava não administrando bem sua carreira e estava falido. Com a ajuda de seus alunos, amigos do Cinema marginal e um providencial financiamento bancário, decidiu rodar um filme radical, misturando horror, violência urbana, drogas e metalinguagem seguindo a onda sessentista de filmes psicodélicos.
“Ritual dos Sádicos” / "O Despertar da Besta" (1969) de José Mojica Marins
Dr. Sérgio ( Sérgio Hingst), um renomado psiquiatra participa de um debate em um programa de TV, e é interrogado por colegas ( os diretores Maurice Capovilla, João Callegaro, Carlos Reichenbach e Jairo Ferreira e o ator Walter C. Portella) sobre sua teoria de que os tóxicos são estimulantes de taras e perversões.
O diretor de cinema José Mojica Marins (o próprio), também presente, não entende o motivo de ter sido convidado. Depois de contar vários casos recentes envolvendo jovens e o uso de entorpecentes, o psicólogo explica seu experimento que consistiu em injetar doses de LSD em quatro voluntários, com o objetivo de estudar os efeitos da droga sob a influência do personagem fictício Zé do Caixão...
O delírio psicodélico dos participantes do experimento mostra cemitérios, mulheres nuas, pessoas deformadas / mascaradas, torturas, bundas com rostos humanos, escadas formadas por corpos, e é claro o maligno Zé do Caixão!
A primeira parte do filme lembra os pseudo-documentários moralistas sobre drogas dos anos 30/50, e nos arrasta pela psiquiatria-de-botequim, pelos comentários sociais duvidosos, e algumas 'perversões' carnavalescas. O filme então ganha cores vibrantes, e por quase 25 minutos, somos brindados com uma das viagens de drogas mais macabras, divertidas e indulgente da história do cinema!
Escrito por Lucchetti e dirigido por Mojica, o filme usa da metalinguagem, com o diretor e seu alter ego aparecendo como personagens, muita auto-referência (mostrando participações reais suas em programas de TV, suas revistas em quadrinhos, marchinhas de carnaval e cenas de "Esta Noite Encarnarei No Teu Cadáver" em um cinema) e ainda homenageia seus colegas da Boca do Lixo ( que o ajudaram a produzir a obra, doando estoques de negativos), colocando-os nos papeis dos psiquiatras incrédulos.
Rodado e divulgado em 1969, em pleno auge da repressão militar, o filme ousado e polêmico foi totalmente barrado pela censura e só liberado em 1983, já com o título de “O Despertar da Besta”, sendo lançado em festivais e mostras especiais.
https://archive.org/details/DespertarDaBestaOJosMojicaMarins
CONTINUA...
Fontes-
- Arquivos do autor
Publicações:
- Maldito: A vida e a obra de José Mojica Marins, o Zé do Caixão (editora 34, 1998) de Ivan Finotti & André Barcinski
- Medo de quê: Uma história do horror nos filmes brasileiros (Unicamp) de Laura Loguercio Cánepa
- Mondo Macabro (St. Martin Griffin, USA, 1998) de Pete Tombs
- Enciclopédia do Cinema Brasileiro (Sesc/SENAC 2012) de Fernão Pessoa Ramos & Luis Felipe Miranda
- Revistas GF- Guia de Filmes, e Filme Cultura (Embrafilme e Inst. Nacional de Cinema 1967-1977)
WEB:
- IMDB
- Wikipédia
- Canibuk - https://canibuk.wordpress.com/2011/11/06/estes-praticamente-estranhos-filmes-de-horror-nacional/
- Portal Brasileiro de Cinema - https://www.portalbrasileirodecinema.com.br/horror/extras-filmografia.php?indice=extras
- Cinemateca Brasileira- https://cinemateca.org.br/acervo/base-de-dados/
- Revista Filme Cultura -
https://revista.cultura.gov.br/wp-content/uploads/2017/06/Filme-Cultura-n.61.pdf#page=35
- Revista Pesquisa Fapesp - https://revistapesquisa.fapesp.br/horror-a-brasileira/
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