segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Poesia, Sexo & Terror : O Cinema de Jean Rollin -Epílogo

 



 Apesar de "La Morte Vivante" (1982) ter sido premiado no exterior, e um de seus trabalhos mais populares, os usuais problemas de distribuição de filmes na França - principalmente um filme sem atores famosos, e de terror - limitarem muito a sua exibição, e ele foi jogado como segunda parte de um programa duplo em salas populares. Desapontado, Jean Rollin teve que voltar a dirigir filmes pornôs, assinando como 'Robert Xavier', produtos mais diretos e crus, como "Rêves de Sexes" (1982), "Folies Anales" (1983), ou "Sodomanie" (1984), para lançamento direto em vídeo.



Ele estava cansado de fazer pornôs, e disse em uma entrevista que podia usar os mesmos (baixos) orçamentos para fazer filmes de outros gêneros, e que fosse comerciais. Então, ele aceitou um desafio inusitado. O produtor e distribuidor André Samarcq (que havia lançado "Viol" e "La Vampire Nue") havia voltado de lua de mel em Bangkok (Tailândia), e trouxera uma grande metragem de filmagens turísticas amadoras (em 8mm), que queria usar como base para um filme. Assim, com a ajuda do ator e roteirista Jean-Claude Benhamou, ele concebeu "Les Trottoirs de Bangkok" ( Sidewalks of Bangkok, Fr 1984)...



Um agente secreto francês é morto em Bangkok após roubar um poderoso vírus bacteriano. Mas seus assassinos não encontram o objeto. Aparentemente, ele deu para Eva (Yoko), uma prostituta e stripper . Assim, tanto os serviços secretos franceses como os inimigos com um terrorista à frente tentam capturar a mulher, levá-la para França e tomar posse da arma biológica.


Um thriller de espionagem e ação, inspirado nos antigos seriados de aventura que Rollin sempre admirou. Com dois fiéis companheiros-  Claude Becognee na fotografia e Lionel Wallman na produção- ele rodou muitas cenas sem autorização e secretamente, por exemplo nas proximidades da Place D'Italie em Paris , ou seja, no bairro chinês, perto dos Champs-Élysées e longe dos olhos dos guardas ferroviários . 


A mistura de cenas de ruas da Tailândia em Super-8, com tomadas realizadas clandestinamente e às pressas (o filme foi feito em 15 dias), fazem parte do charme trash da produção. Soma-se a isso, a inabilidade de Rollin com cenas de ação tradicionais, e detalhes como o vilão oriental Tong - um personagem ao estilo 'Fu-Manchu', mas que é um sádico cafetão dono de um perigoso bordel, e vivido pelo ator francês Jean-Paul Bride !



No elenco, além das presenças de Françoise Blanchard, Brigitte Borghese e Jean-Pierre Bouyxou, destaca-se o empenho e beleza da atriz iniciante nomeada somente como Yoko. 



A equipe ficou impressionada com o desempenho da pequena Yoko, e Rollin acreditou que havia descoberto uma atriz naturalmente talentosa e de futuro, mas a jovem, aparentemente nunca mais atuou...


 Para um projeto tão barato, e realizado de forma totalmente improvisada, "Les Trottoirs" acabou sendo uma surpresa, e um sucesso comercial! 


                     https://ok.ru/video/7014702451288


Depois de ajudar seu amigo e ator Jean-Claude Benhamou (e emprestar seu pseudônimo Michel Gentil) a estrear na direção com a comédia policial "Ne prends pas les poulets pour des pigeons" (1985), muitas vezes creditado como um filme seu,  Rollin foi arrastado para tentar salvar outro filme complicado:

"Emmanuelle 6" (Emmanuelle- Paraíso Selvagem, Fr 1988) de Jean Rollin e Bruno Zincone



Emmanuelle (Natalie Uher), uma jovem modelo, viaja com outras garotas para a Venezuela para um desfile e sessão de fotos de moda...



... enquanto ajuda a 'princesa da selva' Uma (Tamira), que volta para seu país em uma caixa de carga (como clandestina).  Ela a acompanha em suas aventuras, enquanto  vivencia vários encontros sexuais . 


Tempo depois, ao regressar, Emmanuelle não recorda seu nome, nem o que aconteceu. Na clínica do psiquiatra Prof. Simon (Jean-René Gossart), aos pouco ela vai recobrando a memória, e o trauma que passou... 



Ela, e as outras garotas foram sequestradas por um grupo de traficantes de escravas brancas. A nativa Uma se juntou ao agente das modelos, Benton (Thomas Obermuller) para resgatá-las em segurança. 



Sexto filme da franquia francesa vagamente baseada no grande sucesso erótico de Just Jeackin, "Emmanuelle" (1974), com Sylvia Kristel. Este episódio de 1988 tenta imitar desajeitadamente o estilo dos vídeos da época da Playboy, com uma atmosfera elegante e a busca pelo erotismo refinado. Não é por acaso que a protagonista é Natalie Uher Playmate da edição alemã de setembro de 1984, que depois teve uma carreira decepcionante como atriz. 



Já Bruno Zincone foi um editor que se viu lançado como diretor. A pouca experiência e talvez o fardo de outro trabalho forçaram-no a abandonar a produção quase no meio. Rollin reescreveu tudo, e colocou um pouco de sua autoria, como na sequência de abertura em azul (que remete ao clima do filme de Jaeckin), e em um final surreal típico de seu cinema com a protagonista se masturbando no deserto.



Rollin também acrescentou no enredo a clínica psiquiátrica, (como em "La Nuit des Traquées"), no começo o filme, para juntar os pedaços das caóticas filmagens, como fragmentos da memória de Emmanuelle... 



https://archive.org/details/emmanuelle.-6.1988.-dvdrip.x-264-worldmkv

Em 1985, o produtor Jacques Nahum precisava de algumas cenas ambientadas em Nova York para uma série de televisão, e queria alguém que fizesse barato e rápido. Ele contratou Jean Rollin e uma pequena equipe e os enviou para os EUA. Depois que se livrou do compromisso com "Emmanuelle", Rollin conseguiu o direito sobre parte das cenas que havia filmado e não foram aproveitadas, e foi para casa e construiu uma história improvisada em torno delas. 

" Perdues dans New York" (Lost in New York, Fr 1989)



As meninas Michelle e Marie (Fanny e Adeline Abitbol) encontram um artefato mágico de madeira chamado 'Deusa da Lua', e viajam no tempo e no espaço.



 Elas se transformam em adultas (Catherine Herengt e Catherine Lesret) — ou elas seriam velhas transformadas em crianças novamente? - e se encontram e se perdem em Nova York...



...e vagam pela cidade, por praias desertas, e por um cemitério, em uma busca sem fim (pelos tempos de infância?)...



“Perdues Dans New York” , disse o próprio realizador, é uma antologia de todos os temas tratados nos filmes anteriores (e sim, há também um vampiro) e ao mesmo tempo uma fantasia que fala do fim de um ciclo e o início de outro. Em boa parte do filme presenciamos as 'buscas', contadas por uma narração, com dois narradores diferentes. 



É fantasmagórico. É etéreo. É mágico, e muito pessoal. Resumindo, um filme difícil que teve uma distribuição muito difícil. Estamos no começo dos anos 90, e o cinema como o conhecemos, tem outras formas de ser. Jean Rollin tentou vendê-lo para a TV, mas, na verdade, ele só foi lançado oficialmente muitos anos mais tarde, em DVD... 

 


     https://www.youtube.com/watch?v=4OONmSwEUIQ


 Jean Rollin foi convencido pelo escritor, jornalista e músico Gérard Dôle, a fazer uma adaptação para a TV de sua história "La Griffe d'Horus", uma aventura com o detetive Harry Dickson, criado pelo autor belga Jean Ray, e que era uma espécie de 'Sherlock Holmes americano' sempre envolvido com casos bizarros e sobrenaturais. 


Juntos eles escreveram um tratamento para o que seria uma série de episódios de 25 minutos contando toda a aventura, e percorreram todos os estúdios e canais de TV, mas ninguém se interessou pelo projeto. Então, do seu jeito, Rollin decidiu rodar um episódio piloto de forma independente (e sem nenhum dinheiro), para depois apresentá-lo para possíveis produtores. Com uma câmera de vídeo, uma equipe mínima e atores semi- amadores, em um dia de domingo, o filme foi rodado, e no dia seguinte foi editado. Dos 22 minutos do curta, Rollin editou um trailer de 3 min. e partiu para a luta, mas infelizmente ninguém ficou interessado. Tohill & Tombs no livro 'Immoral Tales' dizem que "La Griffe d'Horus" é totalmente amador e cheio de erros, e o comparam com "Plan 9 from Outer Space" de Ed Wood!   



Sem dinheiro, sem produtores, e colocado na 'lista negra' das companhias de TV da França, por conta de seu passado pornô, Jean Rollin (que também estava com a saúde precária) se dedicou a literatura, e publicou novelas como "Une Petite Fille Magique" (1988), "Les Demoiselles de L'Étrange" (1990), "L'Enfer Privê" (1991), onde explorou suas ideias de fantasia, aventuras exóticas e suspense.



Também nessa época, Jean Rollin fez pontas como ator em  três filmes rodados em vídeo pelo diretor, produtor ex-fanzineiro francês Norbert Mountier, que assinava suas produções baratas como 'N.G.Mount'. Assim, ele apareceu em: "Alien Platoon" (1982), um sci-fi de ação, como um Major Americano...



"Trepanator" (1992), uma comédia de terror parodiando "Re-Animator", como o cientista Dr.Roll...



...e "Dinosaur From the Deep" (1993), uma aventura de sci-fi/terror, ( com hilários dinossauros de papier maché em stop motion) como o Professor Nolan, o personagem principal...






O próximo filme de Jean Rollin só seria lançado em 1993 ...

"La Femme Dangereuse" / "Killing Car" (Fr 1989/1993)



Uma misteriosa jovem asiática (Tiki Tsang) entra em um ferro-velho e rouba um grande carro antigo, matando o proprietário e sua namorada.



Um pequeno carrinho de brinquedo é descoberto entre os corpos como um cartão de visita. 



 Dois detetives investigam o caso, um dos quais, o detetive sênior ( Bertrand Biget), parece ser desdenhoso e está quase prestes a se aposentar, enquanto o jovem detetive (Jack Mitchel) está convencido de que há mais do que aparenta. A mulher misteriosa rastreia um casal, até uma fazenda no interior, e também os mata. 

Depois de diversos outros assassinatos, ela finalmente, revela seu motivo - um ano atrás, ela e seu amante se envolveram em um acidente no mesmo carro que ela roubou e usa. A 'Mulher do Carro' descobriu as identidades dos culpados, e daqueles que não ajudaram, e jurou vingança.



Ela se encontra com seu amante desfigurado e lhe dá um beijo de despedida antes de acabar com sua miséria atirando nele... 



Um violento thriller de vingança, com uma produção tumultuada. Rollin começou o filme em 1989, mas por conta de sua situação financeira e saúde, o abandonou. No final de 1992, ele conseguiu a produção de Michel Gué, e com um orçamento mínimo, e em dez dias concluiu as filmagens ao redor de Paris, com uma câmera de 16mm. O papel da 'Mulher do Carro' foi escrito especificamente para a modelo australiana Tiki Tsang, e continua sendo seu único crédito no cinema. 



Os outros papeis foram desempenhados por amigos e antigos colaboradores de Rollin, como Jean-Pierre Boyoux, e Jean-Lou Phillipe. O filme teve dificuldade em encontrar distribuição. Incapaz de lançá-lo nos cinemas, Rollin fez uma tentativa frustrada de vendê-lo para o mercado televisivo, antes de finalmente ser disponibilizado para um lançamento direto em vídeo.



https://wipfilms.net/rape-revenge-and-criminal-cinema/killing-car/


"Les Deux Orphelines Vampires" (Two Orphan Vampires        Fr 1997)




Em um orfanato administrado por um grupo de freiras, as jovens Louise (Alexandra Pic) e Henriette (Isabelle Teoul) inexplicavelmente ficaram cegas. No entanto, à noite, sua visão retorna... 



Como crianças travessas, elas vão ao cemitério próximo, porque acreditam que morreram (devido a 'um acidente') e voltaram para rondar a terra como vampiras.


 Depois de roubarem um livro da biblioteca, elas relacionam o fato com uma lenda inca, e procuram sangue para beber de qualquer fonte disponível (incluindo um cachorro, enterrado depois pelo zelador vivido pelo próprio Rolin). 



As garotas encontram outras criaturas da noite, como uma  mulher loba solitária que vive em um pátio ferroviário, e uma criatura da noite chamada Vênus (Veronique Dajouti) que ostenta asas de morcego.


 O oftalmologista que foi trazido para vê-las, Dr. Dennary (Bernard Charnacé), as leva para a cidade grande, onde atua como seu novo pai e espera curar o que ele acredita ser uma doença, mas as coisas não saem como planejado.



Incapaz de obter financiamento para um projeto chamado "The Return of Dracula" , Jean Rollin resolveu adaptar a história uma série de cinco livros seus, com as aventuras de duas meninas cegas que encontram uma equipe heterogênea de monstros, e vítimas em potencial. O filme veio em parte como um dispositivo para promover os livros, e acabou marcando sua primeira excursão de volta ao vampirismo tradicional desde "Lips of Blood" . Este é facilmente o mais 'inocente' de seu ciclo de vampiros, evitando qualquer gore, e contendo apenas um pouco de nudez distintamente não explícita.

Aqui Rollin estava mais preocupado em experimentar novos truques  para se adequar às suas obsessões visuais, como fazer as garotas vampiras enxergarem apenas nas cores azul e preto (é por isso que grande parte do filme usa filtros pesados para parecer dessa forma). Ele também trouxe de volta a hipnotizante Brigitte Lahaie, em um breve papel como uma das vítimas das garotas... 


enquanto a ardente estrela europeia dos anos 70 Tina Aumont, aparece em um papel inesperado como um ghoul triste... 


      https://www.youtube.com/watch?v=CAetHOfH12s


"La Fiancée de Dracula" (Dracula's Fiancee/ Le Retour de Dracula/ A Noiva de Drácula, Fr 2002)



O Professor ( Jacques Régis= Jacques Orth, veterano diretor francês) ensina ao jovem Eric (Denis Tallaron) sobre a melhor forma de lidar com os vampiros. 




Eles se deparam com o anão Triboulet (Thomas Smith), que tem ligação com os mortos vivos, e o coagem a divulgar os detalhes do paradeiro de seu mestre. 

Seguindo várias pistas e informações, eles acabam em Paris, onde a órfã chamada (Cyrille Iste ) é cuidada pela Madre Superiora (Marie-Laurence) de uma estranha ordem de freiras, que estão enlouquecendo com sua presença...



Isabelle, aparentemente louca, parece estar destinada a ser a nova noiva do Conde Drácula (Thomas Desfossé).

 Professor imagina que Isabelle pode ser capaz de levá-los ao Rei dos vampiros (que dorme dentro de um grande relógio), mas as coisas se complicam quando alguns bruxos (Bernard Musson e Natalie Perrey), uma 'ogra' devoradora de bebês (Magalie Madison), e a poderosa 'Loba' (Brigitte Lahaie) aparecem!




Um retorno óbvio de Rollin ao apogeu dos filmes de vampiros dos anos setenta. Aqui, vemos o diretor atuando em um território incrivelmente familiar - a praia com os penhascos brancos, o relógio de pêndulo, um cemitério, vampiras (e outras criaturas fantásticas)...



.... nudez, uma atmosfera de fantasia surrealista;  além de alguns rostos reconhecíveis de seus filmes anteriores : Lahaie, Catherine Castel, Dominique Treillou).  Embora isso não funcione tão bem quanto os filmes anteriores, para uma produção feita em 2002, com um orçamento modesto, e filmada em 16 mm, chega perto o suficiente para fazer diferença.


https://wipfilms.net/vampire-witches-werewolves/fiancee-of-dracula/


" La Nuit des Horloges" (Fr 2007)



A jovem Isabelle (Ovidie) sai em busca de informações sobre seu tio falecido, um cineasta e escritor chamado Jean Michel (Jean Rollin ). Ela se depara com uma odisseia irreal que começa no cemitério Père Lachaise, em Paris...



.... e durante a qual a realidade, os sonhos e as ilusões se confundem enquanto ela encontra objetos dos filmes de Michel, conhece os personagens e os mundos (oníricos) inventados por ele. 



Na remota casa de campo que Isabelle herdou de Michel, ela  descobre as memórias perdidas de um homem morto, um lugar para sempre assombrado não apenas por seus personagens e fantasias, mas pelos filmes e momentos dele.  Ela conhece os 'esfolados' que querem torná-la sua e se movem pelas dimensões da imaginação de Michel entrando e saindo nos relógios de pêndulo...  


O filme-testamento-memória de Jean Rollin, uma fantasia autobiográfica (e financiada toda com seu dinheiro), onde os objetos e personagens do fictício Jean Michel são representado por trechos de seus filmes mais antigos - como "Le viol du Vampire", "La Vampire Nue", "Le Frisson des Vampires", "Requiem pour un Vampire", "La Rose de Fer"...

Um filme subjetivo construído na forma de uma jornada virtual da jovem Isabelle,  interpretada pela atriz/diretora pornô Ovidie, que entra no lugar de Brigitte Lahaie, e então traz de volta tantas imagens e sentimentos e ainda tem muitas coisas novas, como as esculturas de cera que mostram como o corpo se decompõe, certamente um fato que estava pesando sobre Rollin, então com 70 anos. Existe também outro importante momento simbólico, quando vemos o icônico caixão do relógio pegar fogo e percebemos que isso foi filmado no mesmo cemitério que  "La Rose de Fer"...



 Acima de tudo, um verdadeiro Rollin, uma auto-homenagem melancólica, mas também obra para os fãs do surreal, e para seus fãs fiéis, que queriam mais uma vez homenagear os fetiches do mestre : mulheres nuas, vampiros , relógios de pêndulo e palhaços  . Jean Rollin (1938-2010) morreu três anos depois deste filme, e foi — sem surpresa — enterrado no Cemitério Père Lachaise .




https://wipfilms.net/surreal-and-bizzare/la-nuit-des-horloges/


"Le Masque de la Méduse" (Fr 2009)



Nos dia de hoje, a górgona Medusa (Marie-Simone Rollin) assombrada pela memória das vítimas petrificadas por seu olhar, gira num aquário, petrifica um violoncelista e vai ao teatro Grand Guignol em cujo palco dá vida a um longo monólogo centrado nas vítimas .



A sua busca pela redenção e o remorso que a aflige levam-na a uma longa peregrinação e a uma série de encontros nos quais enfrenta uma série de personagens, incluindo as suas irmãs Steno (Marlène Delcambre) e Euryale (Sabine Lenoël). Também conhecemos o Colecionador (Bernard Charnacé), que considera Medusa uma artista, suas vítimas de pedra, sua obra de arte.

Ele tem colecionado os corpos que ela 'criou' e vive entre eles em seu próprio museu de arte pessoal. Então, atendendo aos desejos dela, ele a decapita...




Um homem (Jean Rollin) enterra a cabeça da Medusa que depois é trazida de volta à luz. Somos então catapultados para o cemitério de Peré-Lachaise, com a 'jovem' Steno que é a guardiã das cabeças das suas irmãs e vive numa cripta, onde acontecem rituais e referências aos... vampiros.


Um filme difícil, que inicialmente teria apenas sessenta minutos, aos quais o realizador acrescentou mais vinte minutos, criando assim um filme em duas partes e curiosamente remetendo para a estreia de “Le viol du vampire”. Com seu estilo lento e melancólico, produção pobre (mas muito elaborada e com ótimos efeitos de maquiagem) e direção criativa, Rollin retoma, como o título sugere, o mito da Medusa, interpretada  por sua esposa Marie-Simone 
no papel principal, e uma de suas netas, Gabrielle, em uma ponta como uma contrabaixista. 

O filme final de Jean Rollin foi filmado digitalmente, e da hipnótica montagem de abertura de peixes no aquário às tranquilas cenas de cemitério, Rollin consegue fazer o formato HD funcionar a seu favor.

Com muitas referências, algumas delas muito diretas, a seus trabalhos anteriores, este certamente não é o filme de Rollin para se começar, mas é o perfeito para terminar. Uma boa conclusão para um percurso cinematográfico de um realizador que merecia mais sorte e muito mais reconhecimento. 

                  https://ok.ru/video/2323682429465

 

Como escrito por Nathaniel Thompson no site Mondo-Digital, na introdução de uma entrevista com Rollin em 2001:

'As imagens do diretor francês de terror Jean Rollin são realmente como nenhuma outra; você sabe facilmente que está assistindo a um de seus filmes nos primeiros dois minutos. Muitos de seus visuais favoritos são certamente horripilantes - vampiras sedutoras em vestidos diáfanos (ou sem nenhum vestido)...



... castelos góticos decadentes, iluminação artificial em cores doces e, claro, respingos de sangue surpreendentes. No entanto, a sensibilidade subjacente é a de um artista puro, uma mentalidade lúdica do século XX que se deleita em justapor imagens improváveis ​​para criar deleite ou desorientação total no espectador. Suas obsessões pessoais são imediatamente discerníveis após experimentar até mesmo alguns poucos títulos; praias desoladas se estendem para sempre como fariam aos olhos de uma criança; meninas, geralmente irmãs, caminham juntas por castelos sombrios, castelos e campos abertos; vilões bizarros ostentam fantasias e maquiagem extravagantes.'

      (https://www.mondo-digital.com/jeanrollintalk.html)



Jean Rollin morreu aos setenta e dois anos em 15 de novembro de 2010, após uma longa batalha contra o câncer, e treze meses após a estreia de seu último filme no Extreme Cinema Film Festival, na França.       

             Merci JEAN ROLLIN, e R.I.P.





                                     FONTES: 

Livros:

- Immoral Tales : European Sex and Horror Movies- Cathal Tohill & Pete Tombs (St.Martin Griffin , USA 1995)

- The Vampire Cinema - David Pirie - (Gallery Press, USA 1984)

- The Illustrated Vampire Movie Guide - Stephen Jones (Titan Books, UK, 1993)


Revistas:

- E.T.C. - European Trash Cinema- Craig Ledbetter & Tom Weisser (diversos números)


  WEB:

- IMDB

- Wikipédia

https://www.cultcollectibles.com/rollin/filmography.htm

https://www.darksidereviews.com/tag/jean-rollin/

https://www.moriareviews.com/director/jean-rollin

https://www.slantmagazine.com/film/flesh-and-blood-the-cinema-of-jean-rollin/

http://atthemansionofmadness.blogspot.com/

- Cinema of the World - https://worldscinema.org/category/jean-rollin/page/3/

- B Movies Heroes- https://www.bmoviesheroes.com/wordpress/tag/jean-rollin/

- Mad Mad Mad Movies - https://mmmmmovies.blogspot.com/search/label/Jean%20Rollin




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